Sabrina Gomes de Oliveira

O ENSINO DE HISTÓRIA EM SALA DE AULA: PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS E NOÇÕES DA DOCÊNCIA

Este relatório intenta documentar as experiências teórico-prática do Estágio Supervisionado I, assim como as dificuldades que se apresentam no cotidiano escolar, as observações e anseios a determinada realidade.

O estágio foi realizado na Escola de Aplicação da UFPA, localizada na Av. Tancredo Neves (antiga Perimetral), 1000, no bairro Montese, na cidade de Belém. A escola funciona em prédios próprios, fora do Campus Universitário.  O presente relatório está sendo realizado no acompanhamento da disciplina de História no Ensino Fundamental II.

A importância do Estágio se mostra indispensável no desenvolvimento do futuro docente, já que permite um contato a uma profissão que, a posteriori, iremos exercer. Em nos permite analisar a atuação do docente que nos acompanha, o planejamento das aulas, recursos, a didática e o material utilizado, as inúmeras avaliações, entre outros aspectos que ainda estamos a observar. Assim como menciona Bianchi et al, que: “o estágio é uma atividade em que vamos revelar a nossa criatividade, independência [...] e, principalmente, se a escolha da profissão corresponde a nossa aptidão”. (BIANCHI et al, 2003, p.7)

Sobre o campo de observação
A Escola de Aplicação foi criada em 1963 para atender aos filhos de servidores da Universidade Federal do Pará.  Porém, desde 2009 as vagas para ingressar na referida escola foram estendidas ao público da Educação Infantil ao Ensino Médio, inclusive a Educação Noturna. 

Em relação a sua estrutura, não é esteticamente bem conservada, porém possui boas instalações, tal como ar condicionado nas salas, possui espaço amplo para atividades esportivas e brincadeiras lúdicas, biblioteca iluminada e organizada, possui também laboratórios de informática e ciência em boas condições, com exceções de algumas áreas como os banheiros que se encontram estruturalmente desgastados, assim como a xerox interna.

Além disso, a escola é dividida em dois prédios separados, um para cada nível de ensino (Fundamental I e II; Ensino Médio). Ambos os prédios, possuem lanchonete e coordenação própria. A Escola de Aplicação oferece a noite supletivo de 1º e 2º graus para a comunidade externa.
A escola possui um alunado diversificado (idade, origem social, etc.). Porém, percebemos que entre as quatro turmas do 7° ano que acompanhamos há um contingente expressivo de meninas compondo a grande maioria das turmas em relação aos meninos. Tal observação, faz pensar o que leva, em determinadas realidades, a grande evasão escolar de meninos.

Atividades e desempenho dos alunos /materiais utilizados
A professora não utiliza os livros didáticos, ela mesma elabora diversos textos e exercícios de fixação. Uma das coisas que chamou atenção foi sobre a linguagem em que ela lança mão para elaborar seus materiais. Diferente do que se costuma ver em materiais didáticos, a professora usa termos que são mais usuais no meio acadêmico, esclarecendo que isso não torna dificultoso o aprendizado entre os alunxs, visto que o conteúdo é didatizado para melhor compreensão desse alunado.

Sobre o ensino/aprendizagem, tendo em consideração que estamos no ensino fundamental, este processo se dá de forma paulatina, haja a vista capacidade cognitiva de cada faixa etária que deve ser considerado. A professora que estamos acompanhando realiza atividades, trabalhos em sala que correspondem com essa fase infanto-juvenil que os alunos se encontram em transição.

Percebeu-se também, que apesar da dispersão e indisciplina que diversos alunos costumam ter devido a sua fase de crescimento, não os impedem de realizar suas atividades em sala, com exceção de alguns alunos que se mostram indiferentes tanto no decorrer da aula quanto nas realizações das atividades.

Observando o professor em sala de aula
Nesse momento, observou-se a atuação da professora em sala, suas estratégias pedagógicas, a participação dos alunos nas aulas, os recursos utilizados, as avaliações e seu retorno, entre outros. A professora não utiliza recursos como data-show, vídeos para complementar sua aula, visto a falta desses mesmos recursos em sala, ela elabora suas próprias apostilas e repassa aos alunos, lendo o conteúdo dos materiais juntamente com eles, e explicando em determinados momentos partes importantes do texto.

Durante as aulas, normalmente a turma costuma permanecer quieta, a professora consegue manter a turma silenciosa, com exceção de poucos alunos. Enquanto no decorrer da aula a professora explica o conteúdo, uma minoria de alunos costuma se manifestar quando em surgimento de alguma dúvida. Os demais não interagem com a professora no momento da exposição do conteúdo, fator inquietante, pois não se sabe ao certo se no momento em que está acontecendo a aula, a pouca manifestação da turma é um sinal indicativo de compreensão ou simplesmente desinteresse e falta de atenção.

Quanto a isso, a professora não provoca muito os alunos entre suas falas para que possam explanar sobre o assunto lecionado. Porém, parte disso é causada por diversos fatores que não recaem apenas sobre o docente. Um deles é o escasso tempo de duração que cada aula possui que apesar de serem três aulas por turma, estas não se dão de forma contínua, são aulas fragmentadas, e o pouco tempo que se tem disponível a professora procura aproveitar para avançar no conteúdo. Foi interessante e ao mesmo tempo angustiante perceber que muito daquilo que o docente planeja de sua aula, esperando resultados satisfatórios, pode ser desmantelada por tantos percalços que surgem e, muita das vezes, estão fora do controle do próprio professor. Seja por alguns problemas estruturais como a falta de água ou luz na escola e sua aula se ver dispensada, seja pela indisciplina dos alunos e a dificuldade do docente em contorna-los, entre outras.

Em uma de suas aulas, a professora iniciou o assunto sobre “A África Subsaariana, A conquista Islâmica e a Reconquista Cristã”, entre as explicações, ela fez um esquema no quadro para ajudar na compreensão dos alunos. Nas aulas seguintes foi distribuída na turma uma ficha de atividades que continha um mapa da África, em que era solicitado fazer legendas sobre as partes que eram pintadas que correspondiam aos comandos exigidos na atividade.

Os alunos apresentaram certa dificuldade em identificar impérios, territórios da África mesmo com as orientações. Uma parcela da turma solicitava constantemente a nossa ajuda e da professora e se mostravam interessados em aprender, enquanto outra parte da sala se dispersava e não se interessava em realizar a atividade, esperando copiar as respostas dos demais colegas. A professora atenta a isso chamava constantemente a atenção desses alunos, e exigia que os mesmos fizessem a atividade.
Outro problema que notamos no decorrer do estágio é a dificuldade de aprendizagem que parte da turma apresenta. Um deles se dá devido à falta de atenção na leitura dos textos. No momento em que estão fazendo os exercícios, alguns alunos não compreendem o que está sendo solicitado mesmo após a explicação e a leitura da professora com eles. Tal dificuldade, em várias situações, faz com que o aluno não persista em aprender, e acaba perdendo o interesse pela aula.

Foi importante perceber como o exercício da leitura se mostra imprescindível não apenas nas disciplinas da área de humanas e afins, como todas as demais, visto que a prática leva a melhor compreensão no que é exposto em sala pela professora. Assim como observa Brandão e Micheletti:

“É um processo abrangente e complexo; é um processo de compreensão, de intelecção de mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a sua capacidade simbólica e de interação com o outro pela mediação de palavras. O ato de ler não pode se caracterizar como uma atividade passiva.” (Brandão e Micheletti, 2002, p. 9)

Além disso, nesse momento que está sendo trabalhado assuntos sobre a África houve uma preocupação pertinente para mostrar aos alunos uma África complexa e diversificada, em que cada região possui culturas e distinções entre si, desmistificando assim, a ideia de um continente uno e homogêneo.

Conclusão
Nesse momento, o Estágio Supervisionado I que se caracteriza, a priori, pela observação, foi interessante perceber alguns aspectos que vão além da nossa base teórica adquirida no espaço acadêmico. Principalmente nos pontos que considero importante ressaltar: a diversidade entre cada turma, visto que mesmo trabalhando com uma faixa etária semelhante, cada sala é um universo diferente, e cada aluno responde de um modo diferente ao que é ensinado.

As dificuldades que se apresentam no ensino público da rede básica,  em que se percebe o grande contraste entre as escolas públicas em que tive a oportunidade de acompanhar. E como essas dificuldades pode ser um entrave ou um estímulo a criação de métodos de aprendizagem para driblar os obstáculos. O que se mostrou muito importante na construção de uma habilidade do professor  em identificar problemas e contorná-los em sala de aula.

Além disso, é importante destacar que mesmo com essa experiência que foi possível com o Estágio Supervisionado, percebeu-se que o professor vive em constante aprendizado e se faz necessário uma constante atualização de seus próprios métodos para atender as mudanças no processo de ensino.

Referências
Sabrina Oliveira é graduanda em Licenciatura em História pela Universidade da Amazônia (UNAMA).

BIANCHI, A. C. M.; ALVARENGA, M.; BIANCHI, R. Manual de Orientação: estágio supervisionado. 3.3d. São Paulo: Thomson Learning, 2003.

BRANDÃO, Helena H. Nagamine e MICHELETTI, Guaraciaba. Teoria e prática da leitura. In: Coletânea de textos didáticos. Componente curricular Leitura e elaboração de textos. Curso de Pedagogia em Serviço. Campina Grande: UEPB, 2002.

Parâmetros curriculares nacionais: história / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998, p.15-52 (1ª Parte).

14 comentários:

  1. Olá Sabrina, primeiramente muito obrigado pelo texto.
    Sobre a falta de interesse dos alunos percebida por você durante as aulas de História também identifiquei exatamente a mesma coisa dos alunos nas escolas aqui em Brasília, além dos motivos já citados como a curta duração das aulas de História e os problemas de ordem estrutural você também atribuiria essa grande dispersão por parte deles ao método tradicional de se ensinar História (Quadro, giz, apostilas e provas, temas que não conversam com a realidade do educando) o que tornaria a disciplina pouco atrativa para eles por ser excessivamente teórica? ou ao seu ver há algo mais além disso?
    - Denis Garcez de Oliveira.

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    1. Olá Denis, obrigada por levantar essa questão. E sim, além dos percalços como falta de interesse de alguns alunos, problemas de estrutura da escola, há outros fatores que não desperta o aluno para o ensino de História. Como mencionado por você, o método de ensino que não se adequa mais a nova realidade dos alunos. O habitual método tradicional não sustenta o processo de ensino/aprendizagem pois não dá oportunidade do aluno refletir, pois ficamos presos ao ciclo vicioso do professor "transmissor" e o aluno um "receptor passivo". Os alunos estão acostumados a receber conteúdo pronto e muito bem explicado, o que impede o exercício de questionar, de refletir, a curiosidade. O seu questionamento me fez lembrar de um momento do meu estágio que tive a oportunidade de participar de uma atividade, em que foi exposto a turma elementos da cultura afrobrasileira presentes na nossa vida. Muitos alunos reagiram diferente a essa aula específica, pois, eles tiveram a oportunidade de pensar e refletir acerca das expressões que eles falam, a comida, alguns ritmos musicais que tem origem na cultura afrobrasileira. E ao meu ver, eles se mostraram interessados pelo fato de significarmos o ensino de História a aspectos próximo da nossa realidade. Os alunos foram estimulados a pensar e ver que o ensino de História não se limita a um passado distante da vida deles, e que sim está presente no nosso cotidiano.

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  2. ótimo texto! essa primeira experiência com o processo de ensino e aprendizagem é muito importante para a formação do futuro professor, pois permite ampliar os conhecimentos adquiridos teoricamente no curso de graduação, para à prática do processo de ensino e aprendizagem do dia a dia em sala de aula.

    minha pergunta é: após observar os mecanismos utilizados em sala de aula e "compará-los" com os conhecimentos adquiridos em sala de aula (na graduação), que conclusões (sugestivas) para uma melhoria deste processo de ensino de historia você sugeriria? a utilização do livro didático? recursos didáticos (filmes, documentos, etc.)? aulas extra-classe? planejamento (participativo) das aulas construídas a partir de conversas com os alunos?


    VICTOR LIMA CORRÊA

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    1. Olá, Victor. Agradeço pela sua pergunta. Victor, por esse primeiro contato que tive em sala de aula, eu digo que para um melhor feedback entre aluno e professor está pautado no diálogo com a turma e perceber quais os mecanismos que a turma tem uma melhor interação. Pois, como observei ao longo do texto, cada sala é um universo diferente, possuem perfis diferentes. Não há um padrão universal. Então devemos “diagnosticar” quais recursos ou métodos de ensino uma turma responde melhor, e qual a finalidade da aula para lançar mão de um recurso como um filme, um mapa, imagens, e como vamos explorar esses recursos para aproximar essa tríade professor>aluno>conhecimento. Na experiência que tive, o recurso como slides facilita muito na cognição dos alunos, em momentos que se precisou expor uma imagem e analisar a mesma. Um filme, no entanto, pode ser uma ferramenta que desperta interesse para uma sala, ou causa dispersão em outra. Depende de como cada perfil de turma reage, e também a nossa habilidade de utilizar a ferramenta.

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  3. Saudações Sabrina! Parabéns pelo texto.
    É notória que a falta de atenção que os alunos direcionam para as aula de História. Uma coisa que me chamou atenção é que a professora não utilizava o livro didático em suas aulas.
    Então questiono: até que ponto a utilização do livro didático poderia colabora para melhor aproveitamento das aulas já que a professora não utiliza o mesmo? e se no ato de sua observação foi utilizado pela professora um olhar direcionado para o cotiano dos alunos, a sua realidade, o local onde habitam?

    Att
    ROSEANE FERNANDES FEITOSA

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  4. Olá Sabrina parabéns pelo sei trabalho, a minha pergunta é, por quais motivos a professora não faz uso do livro didático? E durante o seu estágio a turma se mostrava interessada a leitura do material elaborado pela professora, ou eles expressaram que outros elementos como música, jogos ou filmes em sala podia também fazer parte da aula de história.
    ATT,
    Eliandra Gleyce dos Passos Rodrigues

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    1. Eliandra, boa noite! A professora que acompanhei não fazia uso do livro pois havia conceitos históricos que ela não concordava. Era um certo conflito com a bagagem acadêmica e o modo como o conteúdo era explorado nos livros. No momento, ela fazia isso como um projeto para investigar como a turma reagia ao método que ela elaborou

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  5. Olá Sabrina, me chamou a atenção que a maioria dos alunos do 7° ano são meninas, você tentou saber qual a razão para essa evasão de meninos? E eu gostaria de saber, se essa falta de atenção dos alunos não era um reflexo da falta de contextualizar o conteúdo da aula com algo que lhes era da sua realidade cotidiana?
    Att.
    Luciano Gustavo Pelentier de Oliveira

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  6. Olá Sabrina, boa noite!

    Muito bacana as suas observações como professora, eu me indentifico com diversos apontamentos citados acima.
    Queria saber se você não acha que a falta de um material didático, em que os alunos possam estudar e a professora poder realizar um planejamento semestral ou anual? Será que com um material didático os alunos não conseguiriam se sair melhor em alguns conteúdos?
    E com relação aos alunos com maiores dificuldades, talvez o sistema de e educação por resistir em reprovar alunos com dificuldade não está reduzindo a qualidade de ensino a longo prazo?

    Obrigada!
    Amanda Wrobel Schatz Gouveia

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  7. Sabrina, boa noite!
    Primeiramente te parabenizo pelo excelente trabalho de conclusão na sua observação de estágio. É muito importante acompanhar de perto a relidade de cada sala de aula, as lutas de estar constantemente atualizando os meios de ministrar o conteúdo de acordo com a relidade que se apresenta a cada ano, com indivíduos e turmas distintos, em um mesmo momento níveis de interesses e experiências plurais, em uma estrutura que não comporta as necessidades gritantes, básicas.
    A minha questão se coloca com relação ao livro didático. Gostaria de saber a sua conclusão sobre se essa opção da professora de não utilizar tal recurso, se o material produzido acabou por ser eficiente dentro do tema trabalhado, se você teve contato com esse material, e se os alunos tem esse contato também?

    Att. Libiane Karina Orth

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  8. Boa Noite Sabrina!!
    Texto bem elaborado e com muitas informações pertinentes ao assunto ADOREI!!!

    - Diante das suas constatações sobre as dificuldades em efetuar o exercício por parte de alguns alunos, enquanto outros não se preocupavam em ao menos tentar realizar a atividade te pergunto:

    1º) Será que essa falta de interesse não estaria na falta de conhecimentos que seriam resultado de deficiência de nos anteriores?

    2º) Quando comprovado esse problema o que nós como professores nesse momento podemos fazer para ajudar, solucionar e ao mesmo tempo ascender desejo de aprendizagem no aluno?

    Maria José da Silva Falaci

    Obrigada

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  9. ótimo texto! em sua visão neste primeiro contato com os alunos e as experiencias de ensino de história, quais mecanismos (mesmo que de modo sugestivo) adaptado a realidade dos alunos, seriam (de certa forma) mais efetivos para o ensino de história?


    MARIANNY CIRILO BORGES

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    1. Eu considero muito importante trazer às aulas de História esse exercício de estabelecer elos sobre a nossa vida, hábitos, cultura, nossa identidade aquilo que é ensinado em sala. É o partir do micro para o macro, algo que escutei muito durante a minha formação. E de fato, isso é importante e essencial para o aluno se sentir valorizado e consequentemente mais interessado naquilo que ele vê sendo exposto à lousa e no material elaborado. É trazer sua história local, sua identidade no processo de aprendizagem.

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