Igor Lemos Moreira


Ensino de História no pré-vestibular para além das provas de seleção
  
O presente trabalho visa apresentar algumas propostas de trabalho e reflexões para o ensino de História em cursos preparatórios para vestibulares. As discussões que serão aqui realizadas, assim como as atividades a serem apresentadas e debatidas, referem-se ao meu período como voluntário em um cursinho comunitário na cidade de Florianópolis no qual atuei como docente das disciplinas de História do Brasil e Literatura, a qual não iremos refletir nesse texto, entre os meses de Junho e Dezembro de 2017.

Voluntários, estudantes e coordenadores: guerreiros/as
O PVC, Pré-Vestibular Comunitário Gratuito, ligado ao Instituto de Educação Jovem Popular foi idealizado pela coordenadora Janete Teixeira e seu esposo Pedro Teixeira em parceira com uma série de outros professores e colaboradores. Com mais de 12 anos de existência o cursinho já possuiu uma série de polos, muitas vezes funcionando em mais de um ao mesmo tempo, em espaços cedidos por escolas públicas e demais instituições. É preciso aqui destacar que todos/as os seus/suas participantes, seja coordenadores/as ou professores/as, são voluntários e não recebem nenhuma ajuda financeira, salário ou exercem função remunerada pelo pré-vestibular, o que acaba colaborando para se pensar o perfil de docentes existentes no mesmo.

No que se refere ao corpo docente, se tratando de uma atividade voluntária são notáveis algumas características. A primeira delas é a rotatividade dos os mesmos durante o ano. A não existência de ajuda de custo, a distância da escola no qual ocorreram as aulas em 2017 (uma escola pública a aproximados 20 km do centro da cidade) e as próprias dificuldades da vida particular de cada um acabam por tornar-se motivos que levam a desistência de professores durante o ano causando assim uma rotatividade de docentes.

Outro detalhes que é a maioria os professores e as professoras possuem ainda vínculos com as universidades locais. Esse fato se da por muitos serem estudantes de mestrados e doutorados nestas instituições como a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tal questão é um diferencial de outros cursinhos comunitários na região e que contribui positivamente para o ensino tendo em vista que, em muitos casos, ocorrem atividades de extensão no âmbito do cursinho possibilitadas por essa aproximação mediada pelos professores. Em contrapartida, um dado fundamental, é que o corpo do docente não é constituído necessariamente por estudantes ou profissionais formadas em Licenciatura, ou na própria área da disciplina a qual ministram. Esse ponto é observável especialmente nas disciplinas ligadas a área das Ciências Exatas, onde predominam engenheiros e estudantes de engenharia, e no campo das Linguagens e Códigos onde as formações variam entre Jornalismo, História e Relações Internacionais.

Com relação ao perfil dos/as estudantes é preciso destacar o aspecto da pluralidade, inclusive nacional pois houveram estudantes uruguaios e argentinos. Sobre os/as discentes é necessário apontar que um dos principais critérios na seleção que ocorre semestralmente para ingresso é o sócio-econômico. Pelas aulas ocorrerem no período noturno (entre as 19hrs e 21h50), a maioria dos estudantes que frequentam o cursinho são em sua maioria já formados no Ensino Médio e/ou trabalhadores na faixa etária de 17 a 60 anos de idade.

Sobre o corpo discente é preciso destacar que um dos principais obstáculos enfrentados em 2017 pelo cursinho se refere estes e o alto índice de evasão "parcial”. No decorrer do ano foi observável que vários estudantes passaram a faltar em vários de aula, em alguns casos até semanas inteiras, por motivos diversos. Os principais eram: A dificuldade de conciliar a rotina de trabalho com os estudos; A pressão colocada pelos próprios e os familiares (em especial nos estudantes mais jovens) para aprovação no vestibular; A dificuldade em acompanhar as aulas em função de uma base fragilizada vinda de escolas públicas nas proximidades; A dificuldade em retomar os estudos no caso de estarem a anos fora de uma sala de aula (no caso de estudantes mais velhos).

Ao assumir a disciplina como voluntário, ou seja sem atividade remunerada,  deparei-me com alguns desafios. O primeiro deles era recuperar o atraso da disciplina que, já em Junho ainda encontrava-se no tópico da história do Brasil em seu período colonial. Já o segundo seria como conduzir as aulas e programar um cronograma na medida em que o próprio cursinho não possuía uma relação de conteúdos ou uma apostila/material didático para uso em sala. Em terceiro, e talvez último dos problemas, como preparar os/as estudantes para as provas do ENEM e demais vestibulares tentando auxiliar no seu ingresso na universidade de outra maneira que não fosse através de aulas expositivas e informações “jogadas” ao vento? Entre outras palavras como quebrar a ordem de um sistema onde a disciplina de História, independente de ser Geral ou do Brasil, é vista como “decoreba” e como “aquilo que já passou”? Nesse sentido, as discussões acerca da Consciência Histórica e da metodologia da Aula Oficina (BARCA, 2004), foram fundamentais.

Mudando a perspectiva: História para além da “decoreba”
Os cursinho comentários possuem de modo geral uma representação no senso comum de serem formadores de estudantes capacitados para passar no vestibular e, mais recentemente, no ENEM. Conforme aponta Rêgo e Júnior (2008, p. 03),

“Os cursinhos preparatórios para vestibulares marcam a historiografia da educação brasileira como sendo instituições destinadas a todos aqueles que visam aprovações em concursos, possuindo em seus quadros docentes, professores que conhecem estratégias e conteúdos específicos para a finalidade anteriormente descrita.”

No caso da disciplina de história em específico, imagina-se geralmente que o professor irá em cada aula passar os principais eventos, nomes e datas que cairão no vestibular para que os/as estudantes. De modo geral, basicamente o que se espera é a passagem de uma história fragmentada, linear e positivista onde o/a estudante “memorize o passado” e aplique nas provas de seleção. Porém, no período no qual ministrei a disciplina de História do Brasil no PVC foi tomada uma outra postura. Pretendeu-se adotar uma perspectiva de trabalho onde, apesar de ainda existir a preocupação com o preparo para o vestibular, a aproximação da disciplina com a realidade do aluno e o trabalho com fontes foi priorizado, a partir principalmente de aulas oficina regulares.

Conforme destaca Isabel Barca (2004) o trabalho com a metodologia da aula-oficina possibilita ao estudante atuar diretamente como sujeito ativo em seu próprio processo de aprendizagem. Deslocando o/a professor(a) do lugar de docente, nos moldes mais rígidos, para ocupar uma função de orientador(a) ou estimulador(a) essa proposta coloca o/a estudante em um lugar aproximado ao de pesquisador(a) tendo contato com documentos e produzindo ele(a) mesmo(a) uma significação daquilo que poderia ser apenas passado em formato de uma aula expositiva. O desenvolvimento das atividades nessa abordagem seguiu dois caminhos intercalados com aulas expositivas dialogadas. 

A cada unidade da disciplina eram realizadas aulas expositivas-dialogadas em formato de conversa. A utilização do quadro foi necessária em poucas ocasiões e quando esse era requerido era para a criação de mapas mentais. Porém em algumas aulas eram levados para sala documentos do período, ou de outros contextos mas que possuíam ligação com aquele conteúdo trabalho. A primeira tentativa realizada foi ainda no primeiro mês de aula quando era debatido o tema da escravidão no Brasil colonial e império. Para tentar aproximar o conteúdo dos/as alunos/as foi feita uma oficina de análise do “Tratado proposto a Manuel da Silva Ferreira por seus escravos durante o tempo em que se conservaram levantados (c. 1789) [Engenho de Santana, Recôncavo da Bahia, século XVIII]” juntamente a canção “Canto das Três Raças” na voz da cantora Clara Nunes e de um Ponto de Umbanda referente a Vó Maria Conga.

Em primeiro momento observou-se nos estudantes nos/as estudantes certo estranhamento com a dinâmica da aula por nunca terem tido contato com essa abordagem. Por isso, optou-se em realizar uma análise coletiva dos documentos em sala de aula onde, começando pelo tratado, lia-se a fonte e se discutia o que aquele determinado trecho queria dizer. O objetivo desse primeiro documento era discutir com os/as estudante a ideia de resistência e de agência ativa dos sujeitos escravizados. Já o utilização das canções, em especial no “Canto das Três Raças” visava trabalhar com os/as estudantes a questão da consciência história e especialmente da didática da história na qual pretende-se “investigar o que é apreendido no ensino da História (é a tarefa empírica da Didática da História), o que pode ser apreendido no ensino da História (é a tarefa reflexiva da Didática da História) e o que deveria ser apreendido (é a tarefa normativa da Didática da História). ((BERGMANN, 1990. p. 29).

Se, conforme aponta Peter Lee (2011), apreendemos história em nosso cotidiano a partir de nossas interações, no decorrer da vida o sujeito acumularia um conjunto de referenciais e representações acerca do mundo e do passado. Esse conjunto pode ser definido como a Consciência Histórica que seria “o conjunto das competências de interpretação do mundo e de si próprio, que articula o máximo de orientação do agir com o máximo de autoconhecimento, possibilitando assim o máximo de autorrealização ou de esforço identitário” (RÜSEN, 2007. p. 95). Deste modo, trabalhar a canção de Clara Nunes buscou especialmente debater as representações e a memória da escravidão na música popular brasileira e em nossa contemporaneidade e na realidade dos/as alunos/as, assim como a discussão do ponto de umbanda colaborou no trabalho acerca das tradições orais e culturas afro-brasileiras.

O segundo caminho adotado foi o de enviar-se por um grupo na rede social facebook, ao final de cada unidade, uma lista com duas problemáticas em forma de questões discursivas onde a base teria algum documento, como uma charge ou fotografia. A partir dos documentos disponibilizados e as perguntas levantadas os alunos tinham a oportunidade de sistematizar os conteúdos daquela unidade, revisar o conteúdo e ainda exercitar a capacidade de análise e escrita. A proposta partiu também em função do vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina cobrar questões discursivas em suas provas, ponto que para alguns estudantes representava grande preocupação e receio.

No decorrer do ano foram realizadas uma serie oficinas nas quais o andamento seguiu as mesmas proposta da primeira atividade realizada, porém o posicionamento adotado aos poucos foi o de colocar os/as estudantes cada vez mais em um papel de protagonistas sendo as intervenções feitas por mim, como docente/orientador, raras e muito mais no sentido de estimular o debate. Cabe aqui destacar que adotar uma perspectiva e modo de trabalhar em que o/a estudante ocupe um papel de agente e investigador em sala de aula não é uma tarefa fácil.

“Para que isto ocorra, a aprendizagem da História demanda um processo de internalização de conteúdos e categorias históricas viabilizadores de processos de subjetivação, isto é, de interiorização com intervenção dos sujeitos, com vistas às ações transformadoras e de mudança da realidade. (SCHMIDT, 2009, p. 34)”

Para o desenvolvimento das demais oficinas foram utilizados materiais como pinturas, panfletos, propagandas, canções, obras literárias e programas de rádio. Apesar de não serem utilizados projetores em sala de aula, o uso do aparelho celular para reprodução de áudios se tornou algo não apenas corriqueiro mas um aspecto diferenciado na aula o que intensificou o uso e debate da oralidade em sala. Nesse sentido nas aulas passou-se a utilizar cada vez programas de rádio, propagandas e especialmente a canção como fontes histórica. Essa última fonte foi utilizada em todas as unidades a partir das aulas sobre o período Vargas e partiu das considerações de Miriam Hermeto para a qual a música seria

“uma narrativa que se desenvolve num interregno temporal relativamente curto (em média, de dois a quatro minutos), que constrói e veicula representações sociais, a partir da combinação entre melodia e texto (em termos mais técnicos, melodia, harmonia, ritmo e texto). Produzida em tempos de indústria fonográfica – no seio dela ou em relação com ela, ainda que marginal –, circula majoritariamente por meio de registros sonoros, sendo veiculada através dos meios de comunicação de massa (rádio, TV e mídias digitais, por exemplo). (HERMETO, 2012, p. 32)”.

Outra abordagem de oficina utilizada ao final do ano foi o desenvolvimento de jogos com os/as estudantes. Com o objetivo de realizar a revisão do conteúdo ministrado no decorrer do ano foram elaboradas versões de dois jogos de tabuleiro considerados “clássicos” pelos alunos: “Show do Milhão” e “Imagem e Ação”, contudo relacionado diretamente ao vestibular. Na adaptação do primeiro caso os estudantes respondiam em grupos se as afirmações, retiradas de questões dos vestibulares, lidas em sala de aula estavam certas ou erradas. Já no segundo jogo os/as estudantes, também em grupos, sorteavam palavras chaves, nomes, acontecimentos… e deveriam desenhar ou fazer mímicas para que seus grupos “adivinhasse” sobre o que era que estavam tentando representar. Nesse sentido os alunos e as alunas eram novamente convidados a ocupar um papel central no desenvolvimento das aulas.

Algumas considerações sobre a recepção dos/as estudantes
Por ser uma proposta de condução de aula diferenciada daquela na qual se espera em um cursinho pré-vestibular em vários momentos procurou-se conversar com os/as estudantes para consultar sobre suas impressões e opiniões. O que em, primeiro momento, poderia parecer como algo diferente e “solto” da proposta esperada de uma aula de História acabou por tornar-se um atrativo e um diferencial nas aulas. Os estudantes que inicialmente estavam mais dispersos ou ansiosos por receber o conteúdo “pronto” passaram a lidar não apenas de maneira diferenciada com a disciplina, mas também com seu próprio cotidiano.

No que se refere ao efetivo “preparo” para o vestibular observou-se que a mudança de perspectiva contribui positivamente no desenvolvimento de habilidades para os estudantes resolvendo as questões propostas. Em análise coletiva com os estudantes observou-se que nas provas de ciências humanas, e em especial nas questões relativas a História do Brasil, os alunos tiveram um desempenho muito maior do que o esperado. Já relativo ao próprio desenvolvimento individual do/a estudante e seu senso crítico foi nítido a cada oficina aplicada que estes passavam a estar cada vez mais seguros do andamento de suas análise e fazendo articulações não apenas com a própria história do país, mas também com outras regiões do mundo e/ou outras disciplinas.

Este breve texto, que não possui um caráter propriamente analítico ou teórico, mas sim de relato de experiência e reflexão buscou apresentar ou outra abordagem para o ensino de história em turmas de pré-vestibulares. Sua tentativa é de contribuir para um debate, a muito tempo pouco explorado e que é dominado por uma perspectiva fragmentada de ensino de história, acerca das funções do ensino de História nesse espaço de trabalho em específico. Uma das principais questões neste debate que deve ser colocada é: não se pode esquecer que acima de ser apenas um estudante desejando uma vaga na universidade, ou para alguns apenas mais um número na sala de aula, o/a discente é também um sujeito e um futuro universitário que sairá daquele espaço de ensino e ainda terá todo um papel na sociedade.

Referências
Sobre o autor: Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista CAPES-DS e Integrante do Laboratório de Imagem e Som. E-mail: igorlemoreira@gmail.com

Agradecimentos: Gostaria aqui de deixar um breve agradecimento não apenas ao PVC que me recebeu de braços abertos, mas principalmente aos coordenadores (Janete Teixeira e Pedro Teixeira) pelo belíssimo trabalho desenvolvido, a professora Lívia Roberge (colega de disciplina que atuou na frente de História Geral durante 2017) e aos meus “amados” e “amadas”, os estudantes do cursinho que não apenas me encantaram, mas possibilitaram trabalhar a disciplina com total liberdade e continuam lutando por uma educação e um país mais justo.


BARCA, Isabel. Aula Oficina: do projecto à avaliação. ___________________ (Org.) Para uma educação histórica de qualidade. Actas das IV Jornadas Internacionais de Educação Histórica. Braga:Universidade do Minho, 2004, p.131-144.
BERGMANN, K. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 9, n.19, set.89/fev.90, p. 29-42, 1990.

HERMETO, M. Canção popular brasileira e ensino de história: palavras, sons e tantos sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

LEE, Pr. Por que aprender história? Educar, Curitiba, n 42. P.19- 42, 2011.

GO, Sheila Novais ; MAGALHÃES JÚNIOR, Antonio Germano. PROFESSORES DE HISTÓRIA DOS CURSINHOS PRÉ-VESTIBULARES DE FORTALEZA - CARTOGRAFIA DA TRAMA DAS RELAÇÕES DE SABER E PODER.. In: VIII ENPEH - Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História - Metodologias e Novos Horizontes, 2008, São Paulo. VIII ENPEH - Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História - Metodologias e Novos Horizontes. São Paulo: FEUSP, 2008.

RÜSEN, J. História Viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UNB, 2007.

SCHMIDT, M.A.; BARCA, I. (org.). Aprender História:perspectiva da educação histórica. Ijuií. Editora UNIJUI, 2009, p. 117 – 137.

10 comentários:

  1. Ao longo do texto, a questão do conhecimento ativo foi muito ressaltada, especialmente
    através do trabalho com fontes, sendo - nesses casos - o professor um orientador dos alunos.
    Tendo em vista que os vestibulares cobram, em suas provas, questões que muitas vezes
    exigem o conhecimento de teses consolidadas na historiografia, gostaria de saber como é
    possível transmitir esses conhecimentos secundários (frutos de pesquisas de outros autores)
    através de uma metodologia que prima por um conhecimento primário (fruto de pesquisas dos
    próprios alunos)?

    Albano Giurdanella

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    1. Bom Dia Albano!
      Bem, a proposta do trabalho com fontes em sala de aula para cursinho que busquei trabalhar não excluiu as aulas "expositivas-dialogadas" ou ainda essa relação com conteúdos já produzidos na acadêmica. Se trabalha de maneira intercalada justamente para se entender que o conhecimento não pode ser transmitido, mas se cria na relação discente-docente. Ao mesmo tempo, estamos falando de um cursinho pré-vestibular, ou seja, imaginasse que em algum momento esses/as discentes já tiveram contato com determinados assuntos e a ideia das oficinas seria justamente "ativar" essa consciência histórica desativa. Porém, pensando nisso que estas falando porque não, talvez se trabalhar com textos historiográficos como fontes históricas? EM todas as minhas aulas acabo direta ou indiretamente falando de historiografia, discutindo algumas ideias, provocando eles a questionar os pensamentos do IGHB, ou do IHGSC, ou ainda de livros que algum aluno apareça lendo como o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (o que quase me vez ter uma sincope ao ver). Penso que a principal questão aqui é pensar uma potencialidade no trabalho com fontes em um cursinho já que você tem como usar de uma bagagem que eles já trazem, mas sem ignorar essas produções já consolidas.

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  2. Bom dia! Eu tenho para mim que tendo domínio da narrativa histórica, não importa de onde venha, livros didáticos, sites, documentários, historiografias e etc, eu consigo organizar a minha perspectiva histórica por meio de apostilas, por exemplo, e, posteriormente, expandir a consciência de quem estuda por meio de fontes. Penso que a habilidade com fontes é facilmente exigida nas questões do Enem, mas um trabalho como seu também é sensacional. Você incentivava os estudantes a pesquisarem fontes? Ou só você quem apresentava em sala? Como você conduzia o uso das fontes, encaminhando-o para alguma narrativa histórica?

    Obs: Leciono História voluntariamente num Pré Enem Social.

    Carlos Mizael dos Santos Silva

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    1. Bom Dia Carlos!

      Que legal que você também trabalha em um cursinho preparatório também, especialmente com esse viés social. Então inicialmente eles chegam bastante imaturos, e sem muita noção destas questões por isso é um trabalho continuo. Eles não possuíam apostilas, o material de estudo acaba sendo elaborado por mim em resumos e listas de exercícios, o que já acaba fazendo eles aos poucos criarem um habito de estudo individualizado pesquisando outras fontes de estudo, mas sempre existe um incentivo sim em pesquisa de fontes para além daquilo que trago em sala de aula. Por exemplo nas discussões de Brasil Colonial fizemos a leitura de um Tratado de Africanos Escravizados que fizeram uma greve em seu engenho. Essa fonte estava disponível em um site chamado Impressões Rebeldes que eu compartilhei e sugeri a leitura. Quando chegamos em República no século XX, passei a incentivar eles a escutarem músicas relativas a cada período que estávamos trabalhando sugerindo playlists do Spotify ou do próprio Youtube... Isso meio que ia aproximando eles e criando um desejo próprio deles por pesquisa que volta e meia me apareciam com algo que acharam, ou até que encontraram em cada como uma revista da década de 1960 (aconteceu uma vez).
      Já a condução do uso ia sempre caminhando para demonstrar em fontes algo que vínhamos falando, meio que para aproximar eles do documento. Por exemplo eu pensava enquanto se discutia os conflitos entre Bandeiras e Jesuítas, porque não trazer um trecho de uma carta do M. da Nobrega para eles lerem onde ele narre isso além de só ficar falando sobre? Então na aula seguinte lá estava eu com a cartinha. É meio que tratar um cursinho como algo que fique entre o ambiente universitário e a própria escola, criar um "plano" híbrido entre as abordagens de trabalho ao meu ver e no modo como você interpreta estes alunos e alunas.

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  3. Boa noite Igor. Achei a perspectiva do seu trabalho muito interessante e pertinente, já que o ensino de história nos cursos pré-vestibulares é um tema muito escasso nos debates dentro da universidade, do qual muitas vezes abrimos mão por não estarem na nossa perspectiva de ensino. Gostaria de saber um pouco mais sobre a recepção dos alunos. Dei aula particular para dois alunos vestibulandos no ano passado, e eles vinham com uma concepção de estudar história somente através de mapas conceituais/linhas do tempo, ou seja, decoreba! Você percebeu certa decepção dos alunos nesse sentido, por estarem acostumados com a metodologia tradicional dos cursinhos, ou percebeu que eles conseguiram avistar outras formas de se estudar História a partir da sua proposta? De que forma eles demonstraram isso?

    Agradeço desde já pela resposta!

    Ass: Ruhama Ariella Sabião Batista

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    1. Olá Ruhama!
      Que interessante essa questão de teres dado aulas particulares para pré-vestibulandos, é algo bem diferente acredito eu. Então, inicialmente notei que alguns ficaram meio receosos, mas com o tempo viram que não se estaria abandonando o sistema de preparo para o vestibular, conforme iamos caminhando nas discussões construimos juntos uma linha de raciocínio e criávamos esquemas no quadro, por exemplo. A questão das oficinas entrava como uma atividade eventual, e não regular, geralmente uma ou no máximo duas em cada unidade da disciplina, o que dava em média um mês ou um mês e meio de espaçamento entre elas. Mas sim, de início alguns demonstraram frustração especialmente por eu ter entrado com o curso já em andamento, o conteúdo já atrasado e ter deixado bem claro que minha intenção não era ensinar fatos e datas para o vestibular, mas sim trabalhar a compreensão da história e das temporalidades... Depois muitos desses passaram a cobrar de outros professores adotarem essa postura e metodologia inclusive nas Exatas.
      Espero ter conseguido responder, se não só dizer que vamos seguindo o diálogo!

      Ass: Igor Lemos Moreira

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  4. Oi, Igor!

    Gostei muito do seu texto!
    Sinto bastante falta de discutir essas questões que nos atravessam e nos constituem na atuação em pré-vestibulares, em especial os sociais, comunitários.
    Queria saber se há algum tensionamento nas suas experiências quanto à sequência didática na abordagem da disciplina, se você já viveu propostas de abordagem distintas da que se estrutura cronologicamente, por ex?

    Abraços,
    Caroline Trapp de Queiroz.

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    1. Oi Caroline!
      Muito pertinente essa sua pergunta, o que acontece, com as turmas de Semi-extensivo, que eram ainda mais corridas, eu fiz uma proposta de quebra da estrutura cronológica quando o assunto foi Brasil Colonial, iamos e voltávamos no "tempo" partindo da compreensão das temáticas e de processos, sempre linkando com o presente através, por exemplo, de documentos, mas confesso que é particularmente bastante dificil quebrar essa ordem cronológica especialmente por eles já virem com ela em mente e volta e meia ficarem pedindo para voltarmos e nos orientarmos no que vem antes e o que vem depois digamos assim, mas também é valido!!

      Att, Igor Lemos Moreira

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  5. Boa tarde! Primeiramente, excelente texto e maravilhoso trabalhado realizado. Infelizmente o processo de inserção dos alunos nas universidades ainda é caracterizado por um fordismo estudantil muito grande, em que o aluno acaba limitando-se em decorar o conteúdo e esquece-lo em sua grande parte assim que é realizado o vestibular, não havendo a absorção e aprendizagem da fato.
    A metodologia usada rompendo com o positivismo e a organização tradicional usada nos cursinhos é ótima, no entanto, sabemos que muitas vezes é tida a pressão em cima dos nós, professores e futuros professores, para que passemos o conteúdo o mais rápido possível, gerando enorme de dificuldade do mesmo ser bem trabalhado em sala de aula. Gostaria de saber, como você lidou com o esse desafio em vista do curto espaço de tempo que temos em sala de aula.
    Maria Eduarda Lis de Paula Coimbra

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    1. Oi Maria Eduarda!
      Então, o que acontece é que eu resolvi "esquecer" da cobrança de tempo com eles. Eu pensava ok, tenho esse X números de aulas, para essa quantidade Y de conteúdos, mas eles precisam entender mais profundamente esses problemas W. Partindo disso eu ia articulando, obviamente algumas aulas eram mais corridas, mas nunca só jogando conteúdo inclusive porque as aulas eram baseadas muito mais em perguntas do que em conteúdos no quadro, mas uma coisa fundamental foi o suporte digital. Através dele eu conseguia passar alguns resumos, e indicações para que eles aprofundassem os assuntos, mesmo que muitos tivessem resistência a isso. O que acho fundamental em uma proposta como essa é entender que ritmo você e os discentes conseguem encontrar e, além disso, quais mecanismos funcionam melhor para eles e quais para você tentando achar um meio termo.

      Att, Igor Lemos Moreira

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