Flávio Rafael Mendes Campos


PERSPECTIVAS DIDÁTICAS EM UM MÉTODO NARRATIVO-TÁTICO SOBRE O ENSINO DE SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Quando o assunto é sobre um dos maiores conflitos contemporâneos da humanidade, a Segunda Guerra Mundial ultrapassa todos os possíveis modos representativos em suas diversas formas narrativas. Além de ser um assunto de uma extensa esfera “descritiva”, o conflito em si oferece ao pesquisador diversas conjunturas  em suas fontes, como resultado,este fato conflitante de uma das maiores importâncias da contemporaneidade é estudado por diversas ciências (sociologia, antropologia, economia, engenharias, ciências da saúde, estudos jurídicos entre outros) o que torna Segunda Guerra Mundial um tema mais que complexo, onde consequentemente deixa-o com um grande valor pluridisciplinar e transdisciplinar.

Levando em consideração que em grande parte dos meios didáticos e paradidáticos exercem “muitas vezes” narrativas com vieses macro ou que aborda o maior número de ênfases perspectiveis - (o que é até plausível, sobretudo diante dos fatores de interferência extra e intra didáticos/pedagógicos), falar em Segunda Guerra Mundial sem falar em suas táticas, desenvolvimentos dos conflitos sob um olhar militarista e detalhamento de fatos com embasamentos geopolíticos, nos distancia do “processo”, este uma parte importante para entender a fundo o conflito.

Muitos deste fatos e processos que ocorreram ficaram a “margem do conflito” e com isso suas memórias foram muitas vezes contidas em esferas específicas. As grandes batalhas muitas vezes são descritas de forma linear, os processos de interferências internacionais causaram consequências socioculturais transmutáveis, e os agentes comuns deste processo são absorvidos, minimizados ou relativizados.

O conflito que teve proporções mundiais, não pode ser relativizado pormenorizadamente pelas grandes nações envolvidas. As diversas conjunturas sob âmbitos específicos, faz-se o mesmo tornar-se singular em aspectos dentro de uma concepção com diversidades gerais. [Campos, 2017. p. 73]

Muitas vezes temos que nos ater a cronologia do conflito em si, para identificar melhor como passar o conteúdo de forma que o apreço pela forma (no geral) das didáticas não omita fatos e perspectivas importantes. Então, olhar para um mapa, indicar batalhas, feitos individuais, descrever táticas e pontos importantes, não necessariamente deixa o conteúdo como um manual militar complexo. Apenas, o desenvolve e possibilita-o de uma abrangência que o leva a tornar-se muito mais imersivo e inclusivo.

Olhando para o mapa
Se olharmos para as campanhas militares do Ocidente podemos ver desde toda a complexidade e estratégia tanto no campo militar, como também nas diplomacias internacionais. É importante frisar que todo o esforço de guerra foi feito por uma causa específica, entretanto, grande parte deste esforço seria irrisório sem a assimilação de um discurso político com viés determinante, desde o imaginário coletivo até o pensamento individual.

“A frente Ocidental da II Guerra Mundial era uma construção muito mais complexa do que havia sido sua versão entre 1914 e 1918. Enquanto a Frente Ocidental da I Guerra Mundial era claramente defendida, com soldados de lados opostos enfrentando-se na França e na Bélgica do primeiro ao último dia do conflito, seu perfil na II Guerra era bastante diferente”. [In Jordan; Wiest, 2008. p. 149]

Independentemente dos possíveis cenários macroscópicos no processo do conflito (político, econômico, sociocultural) os avanços e retrocessos em campo de batalha foram sendo consequências das próprias ações si. Todas as consequências dos resultados em campo de batalha vão de encontro com o pensamento estratégico, o poder de produção industrial-logístico e a capacidade de luta. Esta última é fator determinante no processo do conflito onde muitas vezes o valor desta encontrou uma assimetria existente em algum dos três pontos.

Momentos como: A tomada dos Sudetos, a queda de Stalingrado, a defesa da Grã-Bretanha, os conflitos no Norte da África, a estagnação na Itália, Dia D, a batalha pelo Atlântico, a retirada de Dunquerque, entre outros são exemplos de como a convergência dos três pontos determinantes para o campo de batalha ditaram as regras para algum lado, ativo e participativo. Ou seja, muitas vezes os resultados não dependiam apenas exclusivamente de números de contingentes, dos tipos de equipamentos bélicos empregados ou da vontade e moral disseminadas entre os soldados. 

Um exemplo disso foi a derrota aliada na campanha de invasão via Países Baixos, com o codinome de Market Garden. Um plano estratégico que tinha como o objetivo de terminar a guerra o quanto antes, um plano de magnitudes colossais onde se constituiu na maior operação de desembarque aerotransportado da história. Entretanto, números e equipamentos bélicos em grande quantidade esbarrou na negligência dos estudos estratégicos e na falha da atuação da inteligência.

“Existem diversos motivos para justificar o fracasso de Market Garden. As regiões de lançamentos não foram adequadas, a falta de aviões para lançar mais soldados na primeira leva, (...) as forças alemãs foram muito bem conduzidas por Walter Model, que organizou prontamente suas (...) forças para o contra-ataque, o qual foi realizado com grande habilidade”. [Coleção 70º aniversário da 2ª Guerra Mundial, 2009. p. 136]

O conflito no Ocidente
Levando em consideração todo o tema em análise, vemos que se debruçar através das mais diversas fontes sobre Segunda Guerra Mundial é uma tarefa mais que exaltante. E, mesmo que delimitemos recortes em nossas pesquisas isso ainda pode ser trabalhoso. Um exemplo disso é se dividirmos os acontecimentos em uma visão mais planificada e simples possível, podemos destacar dois grandes momentos neste tema: o conflito mundial no Ocidente e o conflito mundial no Oriente. Os dois são grandiosos em si tendo uma cronologia e abordagem imensa com diversas possibilidades.
Se olharmos especificamente para o conflito no Ocidente a imensidão de dados históricos desde o período de expansão inicial alemã (período de política do apaziguamento) até a derrocada final da Alemanha nas campanhas do ocidente que começou aproximadamente em 22 de março de 1945 (Campanha do Reno) é grande demais em si. Na tentativa de tornar o mais didático possível o tema, alguns fatos são omitidos ou minimizados diante de uma eventual narrativa curta. Assim é de importância destacar ou explicitar fatos que passam despercebido em uma eventual pesquisa escolar, acadêmica ou científica sobre o tema.

Essas análises muitas vezes encontram em locais como: geografia, logística, economia; ferramentas que possibilitam um melhor entendimento histórico do processo. Não se esquecendo das diversas pesquisas orais realizadas com os sujeitos que estiveram ativamente no processo. Como exemplo desta realidade temos muitas vezes uma memória coletiva de um acontecimento específico e dentro destes, variados pontos de vistas com um espectro mais individualista. Destacando o Dia D na Normandia podemos analisar esta situação:

“Diante de diferentes pontos de vista sobre a conjuntura da invasão aliada podemos: analisar, compreender e descrever os vestígios históricos que por muitas vezes expressam particularidades sobre ocasiões vivenciadas no Dia D, determinando várias circunstâncias dos envolvidos no decorrer do conflito. O que aconteceu naquela noite e sucessivamente ao longo do dia atrás das linhas inimigas, sugere uma vasta gama de memórias. Por muitas vezes íntima, assim há diversas conclusões pessoais e diferentes de um acontecimento, levando em consideração as limitações de espaço, lugar e tempo em que estes sujeitos históricos estavam inseridos”. [Campos, 2017. p. 120]

Olhar para um mapa e para um documento que descreve um fato de modo processual, tático ou linear não o torna simples para uma eventual pesquisa de macro conjuntura. As especificidades que encontramos nestas determinadas circunstâncias facilitam a compreensão sistemática e cronológica do fato nos dando ênfase para a universalidade da pesquisa. Assim este método de análise narrativo-tático nos deixa muito mais próximo das memorias coletivas, dos sujeitos, das cronologias específicas, dos métodos empregados no conflito e das consequências a curto e longo prazo para aquele determinado espaço e realidade.

Ou seja, há de se olhar para aquele fato, contextualizando e compreendendo toda a desenvoltura, sua cronologia, sua linearidade, observando os números, os dados, o processo. Mesmo que isso possa parecer clichê para uma determinada contextualização metodológica-didática de como repassar aquele conteúdo histórico.


Concluindo
Analisar a Segunda Guerra Mundial é sem dúvida um trabalho custoso, colocar isso em uma perspectiva paradidática muito mais ainda, sobretudo, diante das diversas possibilidades de transcorrer narrativos. A importância de se observar e construir uma pesquisa através de um método narrativo-tático, possibilita uma maior abertura de compreensão de determinados contextos, recortes temporais e as consequências no processo histórico. Com isso, as possibilidades de uma maior análise conjuntural se afirmam especialmente diante das buscas pelas contextualizações interdisciplinares, do dinamismo possibilitado pelas possíveis metodologias envolventes e pelas várias formas de obter conteúdo e fontes históricas na afirmação de uma pesquisa científica crítica e pluralista.

Referências
Flávio Rafael Mendes Campos, formado em Licenciatura em História pela FAFOPAI, Pós-graduado em História Social e Contemporânea à nível de especialização pela UCAM-RJ.Nas pesquisas específicas, foca nos estudos acerca dos conflitos de aspectos militares mundiais contemporâneos e suas consequências ao longo do processo histórico com ênfase na Segunda Guerra Mundial.

CAMPOS, F. R. M.A conjuntura da invasão aliada no Dia D sob a perspectiva das tropas aerotransportadas. Trilhas na História, v. 07, p. 119-135, 2017.

______.Uma análise periférica sobre Segunda Guerra Mundial: A Importância de processos que ficaram a margem no conflito. Boletim historiar, v.1, p. 71-86, 2017.

COLEÇÃO 70º aniversário da Segunda Guerra Mundial, v.26 – São Paulo: Abril Coleções, 2009.

JORDAN, David; WIEST, Andrew. Atlas da II Guerra Mundial: as duas frentes de Batalha. Editora Escala. São Paulo – SP. 2008.


2 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho. Diante da dificuldade encontrada pelos docentes em trabalhar com a temática da segunda guerra mundial, tendo em vista a pouca abordagem encontrada nos livros didáticos sobre a mesma, em sua opinião, é valido a utilização de filmes/cinema para trabalhar o tema? Já que os alunos são "consumidores" assíduos desta indústria.
    Lorena Raimunda Luiz

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim certamente! Sobretudo diante de várias perspectivas que podemos encontrar. Filmes, documentários,entrevistas,animações.São várias as possibilidades de conteúdos. Entretanto é importante ficar atento quanto à classificação das mídias que se vai trabalhar. Já que algumas são impraticáveis para a sala de aula, devido a seu conteúdo forte. Mas existe várias que podem ser usadas (a menina que roubava livros,o menino do pijama listrado, documentários filmados pelos departamentos de propaganda das forças armadas da época,entre outros). Outro fator importante também é a " licença poética " que pode alterar de certa forma uma descrição ou narrativa de um fato ou processo no evento.

      Flávio Rafael Mendes Campos.

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.