Bruna Brandel Meleck

A FEB PRECISA DE UM ESPAÇO MAIOR NA SALA DE AULA

O objetivo do presente trabalho consiste em analisar a importância de temas pouco explorados nos livros didáticos. Em específico aqui será abordada à importância de estudar a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. 

No livro “A luta dos pracinhas: A FEB 50 anos depois” escrito por Joel Silveira e Thassilo Mitke, sendo eles dois jornalistas dos quais foram enviados juntamente com a Força Expedicionária Brasileira para descrever o front e os dias de guerra na Itália,  é possível refletir sobre a ausência de informações sobre a FEB no espaço escolar. No capítulo, incluso no livro, “A FEB não foi ganhar a guerra sozinha. Nem podia.” escrito pelo General Plínio Pitaluga (1993, p. 256) é descrito perguntas comuns entre as pessoas em relação à participação brasileira, perguntas como, “Mas o Brasil esteve mesmo presente no teatro de operações da Itália?”, “O Brasil teve mesmo seus navios mercantes afundados pelos submarinos alemães e italianos nas costas de Sergipe e em outros lugares do Atlântico Norte?”, “Valeu a pena o Brasil mandar seus filhos lutarem no exterior?” e entre outras questões pouco esclarecidas.

Ao buscar respostas no livro didático, é possível encontrar no material disponível para o terceiro ano do ensino médio, da coleção “Novo olhar”, vinte e duas páginas com conteúdos e exercícios sobre a Segunda Guerra Mundial, sendo apenas duas páginas com algumas atividades referente o Brasil na guerra, e apenas dois pequenos parágrafos descrevendo a luta dos pracinhas no front italiano, mas em geral se explicam as negociações entre Brasil e Estados Unidos, a entrada do país na guerra e os problemas internos.  Demonstrando então, que é necessário o interesse por meio do docente para que busque outros meios para explicar quem foram os soldados e o que fizeram, pois nos livros se esquece que, “Sobre os ombros do soldado desaba, afinal, todo o peso da guerra.” (SILVEIRA, J. X. 1947, p. 13). Em outro livro do terceiro ano do ensino médio, intitulado “O mundo por um fio: guerras, revoluções, globalização”, os pracinhas são lembrados apenas com a seguinte frase: “Em meados de 1944, o governo brasileiro enviou homens para lutar na Itália. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) contou com 25 mil soldados, além de 400 pilotos.” (2017, p. 121)

Atualmente, existe um grande número de fontes de fácil acesso sobre os soldados brasileiros, fontes interessantes e recentes de memórias e relatos dos próprios expedicionários, contando com livros em forma de diários escritos diretamente do front que relatam o dia a dia na Itália, e principalmente um enorme acervo de fotos.

Entende-se que o tempo na sala de aula é reduzido, principalmente no ensino médio, e com isso o professor é limitado e não consegue abranger toda a história com seus detalhes, embora alguns temas necessitem de mais informações, as quais não se encontram na maior parte dos livros disponíveis na escola. “As omissões ou o terror podem torná-la incompreensível e, por conseguinte, mais perigosa.” (SILVEIRA, J.; MITKE, T. 1993, p. 255)

A participação africana na Segunda Guerra Mundial também é um assunto pouco explorado na sala de aula, ou em alguns casos, nem citado. No livro didático, “O mundo por um fio: guerras, revoluções, globalização” é possível encontrar informações sucinta sobre os soldados africanos, embora o próprio livro cite que, “Milhares de africanos contribuíram para libertar a Europa do fascismo. No entanto este é um capítulo que não sobressai nos livros de História.” (2017, p. 97). O próprio autor reconhece a falta de importância e a desvalorização desses soldados, pois nas poucas vezes que são lembrados eles são entendidos como soldados de segunda categoria.

Obviamente também é necessário entender que mesmo com sucesso, vitórias e reconhecimento a FEB não se fez decisiva na guerra, porém é indispensável apresentar o tema de forma mais ampla aos alunos, sendo que o conteúdo faz parte da nossa história recente, e possivelmente antepassados não muito distantes foram afetados diretamente ou indiretamente por esses acontecimentos. Mesmo que alguns autores acrescentem pouca importância para participações menores no front, assim como Eric Hobsbawn (1995, p. 26), que afirma que,

“É quase desnecessário demonstrar que a Segunda Guerra Mundial foi global. Praticamente todos os Estados independentes do mundo se envolveram, quisesse ou não, embora as repúblicas da América Latina só participassem de forma mais nominal.” 

Em maioria ainda, quando se explica e se lembra do Brasil na guerra, apenas se resume a vitória de Monte Castelo, esquecendo os demais feitos e deixando de mencionar as dificuldades e o difícil caminho até a tomada de Monte Castelo das mãos inimigas.

“Noite e dia patrulhas brasileiras e alemãs aqui se defrontavam em combates violentos, em sucessivas disputas que fazem parte do cotidiano da guerra e que nunca são mencionadas nos comunicadores oficiais, porque não passam de pequenas células do monstruoso tecido que é a guerra em si.” (SILVEIRA, J.; MITKE, T. 1993, p. 71). 

Fatos nunca mencionados nos comunicadores oficiais e pouco explicados no ambiente escolar. É importante ressaltar também que os brasileiros conquistaram Castelnuovo, Soprassasso, Montese, entre outros. Perderam o total de 443 homens, sendo eles oficiais e soldados e quase 3.000 se feriram.

Os 239 dias no front italiano precisam ser lembrados com mais importância nas escolas, entendendo principalmente as condições as quais 25.445 homens (SILVEIRA, J.; MITKE, T. 1993) com pouco preparo foram mandados a Europa. Enfrentando eles, situações como o forte inverno em que não estavam acostumados e o pouco treinamento lutando contra veteranos de guerra. “Sou apenas um recruta, bisonho e desprevenido como todo recruta, um pobre e indefeso civil em poucas semanas transformado em soldado da ativa, e me emaranho e me confundo num mundo que nunca foi o meu.” (SILVEIRA, J.; MITKE, T. 1993, p. 43)

“Não se pode e não se deve esquecer a guerra, seja através da História ou pela referência testemunhal, pela experiência direta. Não se deve esquecê-las, ou mesmo, temê-la, com todos os caudais que aniquilam, que traumatizam aqueles que dela participaram diretamente, que dela trouxeram a marca do temor, da insegurança. E são ingênuos os que definem a guerra como “uma coisa inútil”.” (SILVEIRA, J.; MITKE, T. 1993, p. 255)

Referências
Bruna Brandel Meleck, graduanda de História pela Universidade Estadual do Paraná – União da Vitória. 2018.

PELLEGRINI, M.; DIAS, A. M.; GRINBERG, K. Novo olhar. São Paulo: FTD, 2010.

SILVEIRA, Joaquim Xavier. Cruzes brancas: O diário de um pracinha. Rio de Janeiro: José Olimpio editora, 1947.

SILVEIRA, Joel; MITKE, Thassilo. A luta dos pracinhas: a Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 3ª. ed., 1993.

VAINFAS, R.; FARIA, S. de C.; FERREIRA, J. SANTOS, GEORGINA dos. O mundo por um fio: guerras, revoluções, globalização. São Paulo: Saraiva, 2016.

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. 1941-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.


12 comentários:

  1. Bom dia. Meu nome é Giovanni Latfalla. Gostei do texto. Na sua opinião, quais são os motivos que levam ao estudo sobre a FEB, na sala de aula, não ter a devida importância?

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    1. Olá, muito obrigada! Acredito que essa questão seja muito relativa. Embora, quando se pesquisa sobre a Segunda Guerra Mundial em geral, as menções ao Brasil na guerra são sucintas ou nulas, o que acaba se refletindo nos livros didáticos. Sendo, em maioria, necessário que o professor note a importância do assunto e leve mais informações à sala de aula.

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  2. Boa tarde. Na sua opinião, perguntas sobre a FEB no ENEM e vestibulares com maior frequência, pode abrir um caminho para o ensino mais abrangente da FEB nas escolas?
    Emanoel do Prado

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    1. Olá. Acredito que sim, pois atualmente o ensino está voltado a questões de vestibular e infelizmente menos preocupado com a construção de saberes.

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  3. Boa tarde. Muito boa a discussão do seu texto. Tenho uma metodologia para a temática. Quando falo sobre esse tema procuro contextualizar o momento histórico com as propagandas de guerra no Brasil. O diálogo com os alunos sempre é profícuo quando debato dessa forma em sala de aula.
    As. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno

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    1. Olá, obrigada! Em minha opinião é sempre importante contextualizar os alunos com outros fatos que estavam acontecendo no mesmo período em que se está sendo estudado, referente a qualquer assunto histórico, é fundamental que eles não vejam a história como fatos isolados. Imagino que sua metodologia produza debates extremamente lucrativos para os alunos!

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  4. Texto esclarecedor, sobretudo diante de temas como a FEB. Também sou pesquisador de Segunda Guerra e gostaria de saber qual sua opinião em relação à o ocultamento de temas como a participação da FEB na Segunda Guerra, e como a historiografia pode ser vilã diante dos meios didáticos como o livro didático que consequentemente vai até a sala de aula?

    obrigado pela atenção.

    obs: fique a vontade para comentar lá no meu trabalho também.

    Flavio Rafael Mendes Campos.

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    1. Olá. Acredito que minha resposta vá de encontro com a do primeiro comentário. Infelizmente quando se refere à Segunda Guerra, pouco se enxerga a participação brasileira. E infelizmente os professores que usam apenas o livro didático em suas aulas, acabam sendo reféns e pouco atribuem importância a luta dos soldados brasileiros no front italiano, assim como o livro trata.

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  5. Boa noite! Prezado, atualmente desenvolvo um trabalho sobre um evento ocorrido no período do conflito que levou a morte centenas de marinheiros no nordeste do Brasil. Me deparo com desconhecimento quase que total do ocorrido. A própria instituição, no caso a Marinha do Brasil, parece ter esquecido. Então, como poderemos realçar o papel da FEB em sala de aula para reverter essa situação descrita no seu texto? Estive, há alguns anos, no museu da FEB e achei fascinante, mesmo considerando as limitações de espaço que tinham. Tornar este museu mais visível aos brasileiros não seria uma forma de produzir o interesse de alunos?
    Att.
    Cleber Mattos.

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  6. Boa noite!
    A Segunda Guerra Mundial é um dos meus temas prediletos, mas no Brasil, infelizmente não há um reconhecimento sobre a participação de nossos soldados durante o conflito. É possível encontrar vários documentários sobre a 2º Guerra, com testemunhos de soldados americanos sobre sua participação no conflito, mas não se encontra relatos de soldados brasileiros da FEB. Não houve no país uma disposição de se reconhecer os feitos da FEB na 2º Guerra, não foi dada a oportunidade dos soldados de relatarem suas experiências em batalhas, e creio que isto acabou por afetar a abordagem sobre a FEB na grade curricular do ensino no país.

    Att Sídnei Alves Delleprane

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  7. Boa Tarde!

    Primeiramente gostaria de parabenizá-la pelo ótimo trabalho e reflexão!

    Por mais que haja um curto espaço de tempo nas aulas do ensino médio, e a grande carga de matérias nas quais o aluno tem que absorver para se sair bem nos vestibulares,creio que o professor deveria trabalhar mesmo que de maneira sucinta este tema de grande importância para a nossa história. Com base em suas pesquisas, você tem visto essa falta de atenção para com o tema como falta de um "espírito patriótico"?

    Att.Leonardo Henrique Giacomini

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  8. João Vinícius Chiesa Back12 de abril de 2018 às 18:45

    Excelente texto. Se por um lado temos uma desvalorização da FEB e um certo ocultamento/ofuscamento desta, devemos levar em consideração que por outro também temos que separar os militares pré-ditadura daqueles perseguidores da ditadura. Minha pergunta é a seguinte: como valorizar a participação da Força Expedicionária Brasileira, dos militares brasileiros na 2a Guerra Mundial sem fortalecer um discurso de valorização militar a ponto de respingar em uma valorização da Ditadura, ainda mais em um momento sombrio como o que estamos vivendo?

    Att.
    João Vinícius Chiesa Back

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